domingo, 6 de dezembro de 2009

Individualismo x individualidade

Enquanto eu escrevo, o João me espera para assistir um filme. Espera no sofá. Olhando para mim. Eu só estou jogando paciência. O jogo não vai sumir. Nem o filme. Eu não quero assistir o filme, eu quero jogar paciência. Mas o João tem só três anos, hoje é domingo e amanhã eu vou trabalhar o dia inteiro. Não vou ter tempo de assistir o filme com ele. Nem de jorgar paciência. Eu faço o que eu quero ou o que ele quer?

Esse tipo de dúvida eu tenho todos os dias: onde fica minha individualidade? Fazer o que eu quero me torna uma pessoa individualista?

As vezes eu quero fazer só o que eu quero. 98,5% do tempo, eu tenho que fazer o que os outros querem. Os 1,5% que me restam, eu sou cobrada - não só pelas pessoas, mas por mim mesma - para anular as minhas vontades ou para passar a necessidade dos outros na frente das minhas necessidades. Mas, se eu fizer só um pouquinho de alguma coisa que só eu quero, só interessa para mim, isso me torna uma pessoa egoísta em que nível? O bem que me faria meia hora de solidão seria prejudicial proporcionalmente para quem me cerca? Mais do que isso, será que algum dia eu vou poder acordar Mariana e dormir Mariana sem que alguém se chateie comigo?

Hoje, neste exato momento, ninguém está me cobrando nada. Só eu. Porque amanhã é segunda e eu vou ter que trabalhar o dia inteiro e quase não vou ter tempo para ser supermãe, nem supercompanheira, nem superamiga. Durante 8h vou ter que ser superprofissional. Vou ter que dividir as 8h acordadas que me restam entre essas outras funções, além de ler, supervisionar a casa, fazer compras, ser simpática e cuidar da minha higiene pessoal. E Mariana? Quanto tempo vai me restar para ser Mariana?

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